segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Portugueses entregaram 19 casas por dia aos bancos no último ano

As dificuldades económicas estão a levar muitas famílias a deixarem de
conseguir pagar os créditos da casa. Dados revelam um aumento de 18%
das casas entregues pelas famílias e imobiliárias em 2011.

Os bancos penhoraram 19 casas por dia no ano passado por falta de
pagamento das famílias e promotoras imobiliárias. Os dados são da
Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária
(APEMIP) e indicam que, em 2011, foram entregues 6.900 imóveis em
dação em pagamento, o que representa um aumento de quase 18% face aos
5.900 entregues em 2010.

Os dados referem-se a casas e terrenos entregues por famílias e
promotoras imobiliárias que deixaram de cumprir as suas obrigações com
a banca e são a concretização do aumento do nível de incumprimento. De
acordo com os valores do Banco de Portugal até Novembro de 2011, o
incumprimento das famílias situava-se em 1,89%, um máximo histórico,
com o crédito malparado a atingir 2,15 mil milhões de euros.

A penhora de casas atingiu sobretudo o Porto, Lisboa e Setúbal - já a
região da Guarda foi a menos afectada. Em Dezembro atingiu-se um pico
histórico, sendo o pior mês dos últimos dois anos, com 1.155 casas
entregues, contra 606 em Novembro.

Segundo o gabinete de estudos da APEMIP isto deve-se a vários
factores. A deterioração do cenário macroeconómico de crise é o factor
mais óbvio. Mas há outros, como as dinâmicas dos bancos, a rapidez com
que fazem as cobranças e as penhoras no final do ano e ainda o facto
de "muitas famílias entregarem as suas casas no último mês para não
terem de pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis [IMI] relativo ao ano
seguinte, sobre um bem que já não possuem", explica Luís Lima,
presidente da associação.

As entregas feitas pelos promotores imobiliários têm também um peso
importante no total de penhoras feitas pelos credores, "reflexo do
arrefecimento do mercado imobiliário". No ano passado atingiu 29,9% no
total das penhoras feitas. Os municípios de Alcochete, Loulé, Ponta
Delgada e Vila do Conde foram os mais atingidos, onde esta realidade
representou mais de metade dos imóveis entregues em dação em
pagamento. Neste caso, o incumprimento tem também atingido níveis
históricos, chegando já a 11,7%, de acordo com dados do Banco de
Portugal.

Dezembro foi o melhor mês de venda de casas em 2011

A venda de casas desceu 7,2% no ano passado, com 194 mil casas
transaccionadas, mas o ano acabou por não ser tão negro como
inicialmente previsto. Isto porque o mês de Dezembro foi muito
positivo, com 19 mil imóveis vendidos.

Para o presidente da APEMIP, Luís Lima, esta tendência "foi uma
surpresa", apesar de o último mês do ano ser normalmente mais forte. O
responsável explica que "as famílias tentaram antecipar as mudanças no
IMI e nas deduções das despesas com a casa em sede de IRS". A isenção
de IMI, por exemplo, foi muito limitada neste Orçamento do Estado,
reduzindo-se para três anos.

O gabinete de estudos da associação explicou ainda, em esclarecimento
adicionais, que Dezembro é um mês de expansão no crédito concedido, já
que "as imobiliárias reforçam as vendas para não pagarem IMI do ano
seguinte" , havendo um aumento das vendas. Além disso, "houve muitos
pequenos investidores que viram na nova lei do arrendamento - que
facilita os despejos em caso de incumprimento por parte dos inquilinos
- uma segurança e que decidiram investir ainda em 2011".

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