segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Banco Santander Totta imputou um prejuízo de cerca de 200 milhões de euros ao Fundo de Pensões dos trabalhadores

Isto a acontecer é de facto muito grave e ética e moralmente reprovável.

In Público


O banco Santander Totta imputou um prejuízo de cerca de 200 milhões de
euros ao Fundo de Pensões dos trabalhadores, de forma a não ter que o
assumir nas contas do grupo. A perda, que está a gerar polémica
interna, tem a ver com contratos de futuros celebrados ao longo do mês
de Julho pela sociedade gestora de fundos do grupo espanhol.

Ao longo do mês de Julho, a sociedade gestora de activos do grupo
espanhol - Santander Asset Management - assumiu um conjunto de
investimentos de risco através de contratos de futuro (compromisso de
compra/venda a executar em datas e preços pré-fixados) sobre os
índices dos mercados nova-iorquinos. Estas operações complexas (de
muito curto prazo), sustentadas em produtos derivados, tinham como
pressuposto uma subida dos valores dos índices no momento do resgate,
o que não se verificou.

De acordo com os dados produzidos internamente, e a que o PÚBLICO teve
acesso, depois da execução dos contratos, no final de Julho, o banco
apurou um prejuízo da ordem dos 200 milhões de euros, mas parqueou-o
no fundo de pensões dos trabalhadores - movimento registado nas contas
de Agosto, que ainda não são públicas. O FP era tutelado pelo
presidente da gestora de activos do grupo, João Bouça Morais, que saiu
entretanto do Santander, conforme prova a documentação interna.

Instado pelo PÚBLICO a comentar a situação, o Santander optou por não
responder directamente à questão: "A gestão do FP é totalmente
autónoma e independente da gestão do Santander Asset Management
Portugal (até por imperativos legais) pelo que, como é óbvio, todas as
operações que são iniciadas pelo Fundo de Pensões são alocadas ao
mesmo, tal como o inverso. Neste domínio, não existe, nem pode
existir, qualquer alocação de activos entre os vários instrumentos sob
gestão".

O Santander reconhece que o FP "teve uma rentabilidade negativa" no
último trimestre, situação que classifica de normal "face ao actual
enquadramento". E nota que é "necessário aguardar pelo desfecho final
do ano" para apurar a rendibilidade final "e situação patrimonial".

Num quadro de crise alargada da divida soberana, que se tem reflectido
nos últimos dois anos em instabilidade financeira e volatilidade dos
mercados, o Santander não previu a queda das cotações, o que tem
gerado polémica e preocupação entre os colaboradores da filial
portuguesa do grupo liderado pela família Botin.

O banco não respondeu quando questionado sobre o momento em que a
administração foi informada do que se estava a passar e, em
particular, o presidente, Nuno Amado.

Há uma semana, o Expresso levantou a ponta do véu sobre o que se
estava a passar no Santander Asset Management (SAM), ao revelar que o
banco se preparava para registar este ano um "rombo" de 26 milhões de
euros (verba que soma aos 200 milhões), resultante de operações
derivadas associadas, neste caso, ao fundo de investimento mobiliário
Santander Acções Global.

De acordo com o semanário, neste caso, a gestão liderada por Nuno
Amado atribuiu o problema a "um erro de imputação" que "não terá
impacto negativo nos clientes". Pelo facto de o Santander Acções
Global ser um fundo de mercado, as perdas teriam de ser cobertas
imediatamente, o que já não acontece com os fundos de pensões dos
trabalhadores. Por força das regras existentes, o banco não será
obrigado a cobrir imediatamente os 200 milhões de euros, razão pela
qual as más decisões de investimento não serão imediatamente
repercutidas nos resultados.

Nuno Amado tem discutido com o ministro Vítor Gaspar a transferência
do fundo de pensões para o sistema público de segurança social. As
responsabilidades do FP no final do primeiro semestre ascendiam a
1,316 mil milhões de euros.

O PÚBLICO sabe que no final de Julho a administração ordenou a
suspensão e liquidação dos contratos de futuros associados ao FP e ao
SAG. E, a 18 de Agosto, João Bouça de Morais, presidente do SAM, e
Ricardo Lourenço, responsável pela área de investimento, deixaram o
banco.

Já o afastamento de Luís Cameiro, que tinha responsabilidades de
auditoria, tem gerado controvérsia, dado que este alertou as chefias,
em vários momentos, por email, nomeadamente para a violação dos rácios
de investimento. O administrador com o pelouro da gestão de activos,
Miguel Bragança, mantém-se em funções. Nos últimos dias chegaram ao
banco duas equipas de auditoria enviadas por Madrid - uma para a
inspecção anual e a outra centrada nas operações polémicas para apurar
prejuízos e responsabilidades.

A Comissão de Trabalhadores afirmou não ter "conhecimento sobre uma
perda tão avultada no Fundo de Pensões", mas reconheceu existirem
"rumores" que a levaram já a solicitar "esclarecimentos" à
administração, que a informou de que as oscilações registadas no fundo
eram normais. A CT lembra que "a legislação actual lhe retirou o
direito de integrar a Comissão de Acompanhamento dos Fundos de Pensões
dos Trabalhadores" e que a fiscalização está agora a cargo dos
sindicatos."

Entretanto, os colaboradores da área de investimentos mobiliários
foram já informados de que a gestão do sector passará a ser feita
directamente por Espanha.

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